quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Na escuridão Miserável

Eram sete horas da noite quando entrei no carro,ali no jardim Botâmico.Senti que alguem me observava,enquanto punha o motor em movimento.Voltei-me e dei com uns olhos grandes e parados como os de um bicho, a me espiar,atraves do vidro da janela,junto ao meio-frio.Eram de uma negrinha mirrada,raquitica,um fiapo de gente encostado ao poste como um animalzinho,nao teria mais que uns sete anos .Inclinei-me sobre o banco,abaixando o vidro:
- O que foi minha filha?-perguntei,naturalmente,pensando tratar-se de esmola.
-Nada nao senhor - respondeu-me .a medo, um fio de voz infantil.
- O que e que voce esta me olhando ai?

Sonho doido

Sonhei um sonho doido,
de virar o mundo do avesso,
de provocar chuva de flores...
Sonho colorido,doce e fantastico
que nem consigo me lembrar direito
pra fazer voce sonhar.
Acordei e foi aquela vontade
de pegar no sono,
de dormir um seculo,
so para retomar o fio,
e de novo envolver-me
na magia de cores, de formas,
de brisa no corpo,
de sons de valsas
e perfumes de jardim.
Acho que o amor verdadeiro,
o verdadeiro amor,
e como um sonho assim...
E pensar que ainda é manhã.
que vou ter de esperar a noite,
o sono e a incerteza
do sonho doido voltar!...

Santa de casa

Eu juro que nao entendo
Por que tanta bronca em casa...


Quando as amigas me convidam
Para passar o fim de semana
Junto com suas famílias,
Eu só recebo elogios
Por meu bom comportamento
E minha fina educação

'' Que menina atenciosa ...''
'' Tão ordeira e prestativa !''
'' Um exemplo de garota! ''
'' Volte sempre que quiser ... ''

Não sei por que minha mãe
Se recusar a acredita
Que essa santa criatura,
Sincera, inocente e pura,
Seja sua filha querida...
Ideal pra uso externo ,
Perfeita pra exportação!


" Os sonhos esquecidos"

Helena sonhou que deixava os sonhos esquecidos numa ilha.
Claribel Alegria recolhida os sonhos , os amarrava com uma fita e os guardava bem guadardos.Mas as crianças da casa descobriam o esconderijo e queriam vestir os sonhos de Helena , e Claribel , zangada , dizia elas:
-Nisso ninguem mexe .
Entao Claribel telefonava para Helena e perguntava:
- O que eu faço com seus sonhos?